segunda-feira, 28 de março de 2011

O segundo cérebro

Reproduzo aqui parte do artigo publicado pelo Dr. Dráuzio Varella em seu site sobre a Síndrome do Intestino Irritável, pois de todas as pesquisas que realizei (e foram muitas) considero este artigo um dos mais esclarecedores sobre este assunto tão controverso (e relativamente novo).


Síndrome do intestino irritável
O segundo cérebro 
francisthemulenews.wordpress.com
               
Reduzido à essência, o aparelho digestivo é um tubo no qual órgãos como fígado, pâncreas e glândulas salivares despejam secreções para ajudar a digestão e absorção dos nutrientes necessários para a manutenção das funções vitais.
Como é essencial que os alimentos engolidos progridam no interior do sistema, a seleção natural elegeu mecanismos de alta complexidade para assegurar movimentos de contração e relaxamento da musculatura das paredes do tubo digestivo que conduzam o bolo alimentar até o meio externo. A eles damos o nome de ondas peristálticas.
Uma extensa circuitaria de neurônios disposta ao longo do tubo, conectada com o cérebro e com a medula espinhal, controla o ritmo das ondas peristálticas. Hormônios e mais de trinta substâncias conhecidas como neurotransmissores ajudam a modular os impulsos nervosos que trafegam de um neurônio para outro, com a finalidade de fazer o ajuste fino dos movimentos de contração e relaxamento que dão origem e mantém as ondas.
Esses mecanismos são tão eficazes que o aparelho digestivo pode realizar suas tarefas independentemente do sistema nervoso central. Nos traumatismos cranianos que interrompem as conexões nervosas do cérebro com o resto do corpo, todos os movimentos desaparecem, mas o aparelho digestivo continua a funcionar por conta própria, como se fosse dotado de um cérebro próprio.

A conexão serotonina
A coordenação precisa entre os sinais enviados pelos neurotransmissores e os impulsos nervosos que caminham de um neurônio para outro, garantem funcionamento harmonioso, rítmico, do aparelho digestivo.
Quando os alimentos caem no estômago, ocorre liberação de hormônios e neurotransmissores que provocam o ato reflexo conhecido como reflexo gastrocólico, verdadeira ordem para que as alças intestinais se movimentem.
Um dos neurotransmissores mais atuantes na transmissão de mensagens entre os neurônios do aparelho digestivo é a serotonina. Fatores que alteram a produção de serotonina, ou modificam as características dos receptores aos quais ela se liga, podem desorganizar os movimentos intestinais e causar constipação (prisão de ventre), diarréia, dispepsia (digestão difícil) e a síndrome do intestino irritável.

SIR (síndrome do intestino irritável)
Antigamente chamada de “colite nervosa”, nessa síndrome não encontramos alterações patológicas no intestino. A SIR é causada por alterações no mecanismo de sinalização mediado pela serotonina (e por outros neurotransmissores) e seus receptores, que desorganizam as ondas peristálticas modificando os hábitos intestinais.

1 - Formas de apresentação
Classicamente, a SIR costuma ser subdividida em três grupos:
1.1 – SIR com predomínio de constipação;
1.2 – SIR com predomínio de diarréia;
1.3 – Forma alternante, em que constipação e diarréia se alternam.
Atualmente, a utilidade dessa classificação tem sido questionada porque a separação entre os grupos não é clara e são freqüentes os casos que se instalam com prisão de ventre e evoluem com diarréia, ou com alternância de diarréia e constipação.

2 - Diagnóstico
Como não existem achados anatômicos responsáveis pelo aparecimento da SIR, o diagnóstico é feito clinicamente, depois que o médico ouviu as queixas, interpretou os sintomas, pediu exames e excluiu a possibilidade de patologias mais graves.
É importante lembrar que sintomas como diarréia e constipação podem ocorrer no câncer de cólon e em doenças inflamatórias intestinais como a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn, patologias que exigem a realização de colonoscopia, para visualizar o revestimento interno do intestino grosso.

3. - Tratamento da SIR
Prisão de ventre, flatulência, desconforto abdominal, dor, diarréia, urgência para ir ao banheiro e dificuldade para evacuar, sintomas característicos da enfermidade, podem interferir com a qualidade de vida de seus portadores e exigir tratamento. Muitas vezes, os pacientes só procuram ajuda depois de tentativas infrutíferas de resolver o problema pelo uso crônico de laxantes, lavagens e de tratamentos caseiros inadequados.

4. - Medidas gerais e cuidados dietéticos
São aconselháveis em todos os casos: hidratação adequada, atividade física, alimentar-se em intervalos regulares e usar o banheiro num mesmo horário para estabelecer um ritmo diário, assim como evitar comidas picantes, muito salgadas, com excesso de condimentos ou conservantes, doces concentrados e alimentos que provocam gazes (feijão, grão de bico, repolho, etc.).
Em certos casos é preciso cuidado com o leite (60% a 70% da população com mais de 60 anos apresenta algum nível de intolerância à lactose).     
As fibras devem ser selecionadas de acordo com a presença de diarréia ou constipação. As fibras solúveis, como as encontradas em polpas de frutas e alguns cereais ajudam a formar e compactar o bolo fecal. As insolúveis, presentes na casca das frutas, em alguns cereais e em todas as verduras, não têm o poder de compactar o bolo, e funcionam como laxantes.

5. -Conclusões
Não vai longe o tempo em que a síndrome do intestino irritável era interpretada como simples distúrbio alimentar, provocado pelo estresse em pessoas nervosas. Hoje sabemos que se trata de uma doença crônica, causada por alterações de hormônios e neurotransmissores que modulam os movimentos peristálticos. Seu tratamento exige cuidados dietéticos, orientação médica e medicamentos de uso prolongado para controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.

Sugiro, para quem passa por este problema, a leitura do artigo por completo clicando aqui...
Tradução da tirinha:  'gutsy move for a brain... movimento corajoso de um cérebro...'

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